quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Na praia, na chuva, no chão.



Eu gosto muito de viajar, sabe? É uma das poucas coisas que eu gasto meu dinheiro sem medo de ser feliz. Cansada já de passar o final do ano sem fazer absolutamente nada em Campo Grande, resolvi que ia dar um jeito de ir pra praia, ver os fogos ali pertinho do mar e tomar uma champagne em taças de vidro chiquérrimas. Convoquei minha mãe e meu namorado e os obriguei a irem comigo. O destino: Ubatuba. Reservei com bastante antecedência um hotel num lugar super bem localizado, mandei o dinheiro, comprei biquíni, juntei meu 13° salário pra torrar tudo na praia, comprei todos os acessórios necessários, óculos, filtro, canga, toalha, etc etc etc. Viagem marcada para o dia 26 de dezembro, tudo perfeitamente combinado e decidido, sem direito a opiniões do namorado e da mãe.

Eis que dia 24 de dezembro, a senhora proprietária do Hotel liga desmarcando nossa reserva. Deu uma desculpa qualquer de que não havíamos acertado na data certa e depois de muitas grosserias, chamando-nos de loucas e “gentinha do mato grosso” devolveu nosso dinheiro. Frustração total. Teria que me contentar agora com mais um réveillon na cidade, vendo os fogos dos outros da sacada do apartamento e assistindo show da virada depois da meia noite na globo.

Então que o destino nos surpreende mais uma vez. Uma amiga da minha mãe nos convida justamente pra ficar no apartamento do irmão dela, em Ubatuba, sem precisar pagar nada por isso. Gente, mas é claro que topamos na hora. Eu esqueci o detalhe mais crucial de todos: viajar com a minha família nunca, mas olha, NUNCA é uma viagem normal, e é claro que quando chegamos lá, descobriríamos o por quê.

Condomínio legal, localização boa, apartamento espaçoso, seria tudo perfeito se não fosse por três detalhes deveras importantes: não tinha luz, não tinha um móvel sequer e estávamos em oito pessoas. Tchanam!

Dormi na sala, minha mãe na cozinha e o resto do povo espalhados nos outros cantos do apê. Como não tinha luz a água do chuveiro estava na mesma temperatura que o mar na praia da Rússia (se isso realmente existir) e quando chegava o final da tarde, era impossível enxergar a 1m de distância. A vantagem, é que como não havia móveis, também não havia a possibilidade de dar uma topada de dedinho e joelho nos mesmos. Então fizemos um plano de logística. Voltaríamos para o apê antes de escurecer, tomaríamos banho enquanto ainda era possível enxergar dentro do banheiro, nos arrumaríamos e bora pra rua fazer qualquer coisa, quando chegarmos em casa estaríamos tão cansados que iríamos direto pra cama (ou melhor, pros colchões infláveis) dormir. Foi um bom plano, mas logo no primeiro dia de execução já contamos com a fama de Ubatuba: a chuva. Quando terminamos nosso banho e estávamos todos emperequetados e prontos pra jantar em algum lugar, eis que vem ela, imponente e certeira, ordinária e cretina, indecente e gelada: a chuva. E ainda por cima era pontual. Esperava a gente por o pé na rua e desabava, engarrafava o trânsito, perturbava os cabelos do mulherio, encharcava roupas, tênis e entristecia nossas noites.

Sem mais delongas, fiquei uma semana sem televisão, sem luz, sem espelho, sem água quente, sem ventilador, sem mesa, cadeira e conforto. Aprendi a conviver como nossos ancestrais, estava apta pra começar a caçar se ficasse mais uns três dias ali. Eu não fazia idéia como estava meu cabelo e minha aparência e nem a combinação das roupas. Aprendemos a respeitar os mosquitos e fizemos um pedido à eles: “observem nossa situação, a gente deixa vocês ficarem por aqui a noite, mas picar é sacanagem demais”.

No fim, observamos os fogos embaixo de chuva, com os pés afundados em poças de água, tomando champagne quente em copos de plásticos descartáveis e com a ilustre companhia do cumpadi Washington à nossa esquerda ( que benção ser parecido com o cumpadi, não é mesmo? ). E pra completar, no ultimo dia de estadia, a casas Bahia entrega o sofá que o proprietário do apê tinha comprado. Pronto, agora tínhamos um sofá, ficamos umas boas horas naquela cena deprimente: todo mundo amontoado no sofá conversando sobre como ele era confortável.

- Nossa, mas muito bom esse sofá né.

- Mas, é só um sofá!

- Ah, mas não é qualquer sofá. Senta bem nele, vai ver como é confortável.


É isso que dá, dormir no chão por alguns dias....

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Pisando em ovos


Olha, já me meti em bastante confusão. Parece que eu buscava isso, impressionante. O pior é que quando a última pessoa do mundo que poderia saber das cagadas (meu pai), descobria, eu me ferrava e depois de um tempo conseguia fazer merda de novo.

Certa vez eu e um amigo, o malandro das bicicletas ( leia o post das bicicletas se não conhece ainda), resolvemos atirar papel higienico molhado pela janela do meu prédio. Infelizmente tinha pouco, então fomos comprar no mercado. Chegando la resolvemos que papel higienico é coisa do passado, a moral agora é atacar ovo mesmo. Compramos. Mas olha, muito ovo hein, da-lhe ovada no povo, a quadra de futebol da frente da janela ficou imunda. Ninguem descobriu nada... até o dia seguinte. Cheguei em casa num horario de segurança, que eu havia inventado. Eu explico. Toda vez que tinha alguma nota baixa em provas ou boletim, eu chegava um pouco depois do horário do almoço, pra não pegar meu pai em casa. Bom, abri a porta e lá estava ele, deitado tranquilo no sofá.

- boa tarde
- oi pai.
- vem aqui, vamo conversar?
- sim.
- então, não sei o que passa nessa sua cabeça, juro que não sei, mas... o senhor jogou ovo pela janela do nosso apartamento?
- ...
- HEIN?
- sim.
- que bonito, agora o senhor vai pegar aquele balde ali, aquela vassoura e vai la em baixo limpar a quadra inteira de futebol.

Cena ridícula, sorte que nenhum vizinho conhecido passou por la, quem ria eram os porteiros, todos abraçados e felizes. Meu pai ficou na janela olhando e de vez enquando mandava uns:

- ALI Ó LEANDRO, NAQUELE CANTO TA SUJO DE OVO AINDA. LIMPA ALI!

Humilhação bacana. Aprendi? Há, podia ter aprendido né? Mas de certa forma eu sempre me achei esperto o bastante pra fazer outra cagada e dar certo. Cagadas não dão certo. Tenho ainda bastante delas pra contar aqui.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Quando uma bicicleta não dá para três moços.


Quando você é um pré-adolescente e seus pais viajam, não tem jeito, algo que eles não aprovem você irá fazer. Faz parte da nossa natureza isso. Quando meus pais viajavam eu realmente aproveitava, mas não fazia nada tão absurdo. Comecei a me sentir atraído por um copo de cerveja quando tinha uns 19 anos, ou seja, eu não fazia orgias alcoolizado quando ficava sozinho em casa. Chamava alguns amigos, jogavamos video-game, dormíamos bem tarde, víamos filmes pornográficos, ah coisa de nerd mesmo. Bom, meus pais viajaram para nossa futura cidade, resolver lance de moradia e tal, coisa importante mesmo, e eu fiquei sozinho no apartamento. Chamei 2 amigos para almoçarem em casa e já aproveitar a tarde de vagabundagens. Eis que surge uma idéia gay:
- vamos fazer um bolo?
- não sei fazer bolo.
- a graça é essa...
- tá vamo.

Desci até o bicicletário do prédio para buscar minha bicicleta e ir, até que surge uma brilhante idéia vindo de um companheiro:
- cara, bota fé de eu pegar uma bicicleta aqui?
Bom, como a anta aqui achava que ninguém usava as bicicletas mesmo, incentivei:
- ah rola sim, pega ae.

Um escolheu a primeira que viu, meio velha. Ah mas o outro foi específico, escolheu uma monstruosa, a rainha das bicicletas. Ela era tão legal que pesava 5 gramas. Bom saímos, compramos os ingredientes e cada um pegou um picolé. Paramos para comer o picolé e conversar um pouco numa das passagens subterrâneas que cortam a avenida principal de Brasília. Seguinte, não se toma picolés em uma passagem subterrânea. Você tomaria? Eu tomei. Resultado: 3 pivetes apareceram pra trocar uma idéia, roubaram o disc man de um e escolheram a bicicleta mais legal das três pra levarem pra casa. Desespero.

Aí veio a parte "puta que pariu". O porteiro surge desesperado, perguntando o por que de eu ter feito aquilo, dizendo que ia perder o emprego, que tava perto do natal. Ah mas eu me senti o cocô do cavalo do bandido. Meu amigo que escolheu a tal bicicleta de jesus cristo, tentou correr atras mas já era tarde.

Vou fazer aqui então uma listinha resumida do que iria acontecer:
a) o porteiro ia perder o emprego e não ia dar presente pra familia no natal
b) meus pais iriam saber que o filho roubou uma bicicleta pra comprar ingredientes de um bolo
c) minha empregada iria ser responsabilizada de algum jeito, nao pelos meus pais, mas pelo porteiro
d) CAGANEIRA.

Bom, subindo o elevador, eu me sentia envelhecendo a cada andar. Eram 5, envelheci 5 anos. Meus pais souberam da melhor forma possível. Pela empregada, assustada por ouvir do porteiro que iria chamar a polícia pra me prender. Minha empregada, coitada, mal falava bom dia, tem vergonha até de olhar para alguém, contando isso pro meu pai. Acho que ela chorou.

Aí veio aquela comida de rabo saudável, onde ouvi várias perguntas do meu pai que terminavam com "... hein seu filho da puta?". Minha mãe teve que voltar mais cedo e largar os compromissos pra cuidar do idiota que roubou uma bicicleta. Logo depois, a mãe do cidadão que escolheu a bicicleta mais legal do planeta terra, me liga tirando satisfação:

- como que vc deixa o meu filho fazer uma coisa dessas?
- ué mas eu não sou a mãe dele!
- mas você é mais velho que ele!
- um ano só! e ele é mais alto que eu uai!

Ah estava sem moral. Mesmo. Então surge mais uma surpresinha gostosa pra situação. O dono da tal bicicleta:
a) estava viajando
b) era dono de uma bicicleta de 2 mil reais
c) estava contando com ela pra competir no nordeste em 10 dias.

Bacana né? Nossa, aí acabou meu mundo. Enfim, foi chegado o dia da deliciosa reunião dos 3 delinquentes, suas respectivas mães, o porteiro que me ama e a síndica, pois o dono da bicicleta não fazia nem idéia do que tinha acontecido. Resolvi assumir que a culpa era minha mesmo, tava na merda de qualquer jeito, ia embora de lá também em poucas semanas e foi meu presente de despedida. Mas dividimos em 2 familias o prejuízo, pelo menos.

Sorte que meu tio trabalhava na época no ponto frio, conseguiu arranjar a bicicleta da nasa e enviá-la a tempo. Nunca conheci o dono da bicicleta e não faço questão de conhecê-lo. E é isso, não tenho nenhum desfecho bacana pra colocar no final dessa história. Ah peraí, tenho sim... não, não tenho. Boa noite.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Pais e Testas


Coincidência. Tá aí algo que sempre aparece de surpresa e depois de um tempo começa a ficar muito na cara. No meu caso, realmente na cara. Mais pra testa na verdade. Vou contar 3 histórias aqui que, no final das contas, dá uma história só de coincidência. Vamos lá.

1- A banheira do desapego.

Meu pai me levou pra casa de uma amiga, que tinha um filho. Era bem legal ir lá, o menino tinha tudo que é brinquedo, dava uma invejinha mas pelo menos ele era bem legal e deixava eu brincar com as coisas. Mas naquele dia ele tinha uma novidade:
- Meu carrinho novo anda na água!
- eeeeeeeeeita!!!!! me mostra!
Bom fiquei super interessado né, o carro andava na água! Claro que meses depois eu descobri que até formiga anda na água, mas sei la, era novidade pra mim no dia. Fomos para o banheiro onde tinha uma banheira, pra mostrar que o carro realmente era mutante. A banheira foi se enchendo um pouco de água e enquanto isso fui para o quarto dele apertar um botão de um brinquedo que eu tinha tido vontade de fuçar desde o começo da visita. Coisa de guri afobado sabe? Apertei e ouvi ele me chamar. Entrei no banheiro, escorreguei no tapete e bati a testa na banheira. Ah que dor ridícula. Meu pai olhou o machucado e eu fiz ele jurar que não seria preciso levar pontos. Amiga dele me deu um bis e se sentiu enfermeira. Fim.

2- A quina professora.

Sábadão de tarde, momento bacana para ajudar o pai a lavar o carro. Bastante divertido, principalmente quando ele inventa uma brincadeira legal. Começou a jogar água no telhado, que estava quente do sol, começou a escorrer uma "cachoeirinha". Nossa, alegria demais. A diversão era sair correndo pelo chão molhado e parar na cachoeira. Bem bacana. Certo momento achei que poderia utilizar essa cachoeira pra algo mais útil, como retirar sabão de lavar carro do próprio corpo, né? Me ensaboei inteiro, até onde não podia: no olho. Fui de olhos fechados, e como diria um jogador de futebol que eu esqueci o nome, o garotão aqui foi "indo, indo, indo e iu". Testona na quina. Dor. Muita dor. Vem meu pai me ajudar de novo. Mas não precisei costurar nada. Fim.

3- A feijoada da paciência.

Feijoada. Curto hein, ah mas curto. Tinha rolado uma feijoada nervosa em casa, com tudo o que tinha direito. Terminado o almoço, vem o momento crucial: ir ao banheiro. No caso, o ÚNICO da casa. Ah mas meu desespero tinha apenas começado quando vi meu pai entrando com TODOS OS JORNAIS DA CIDADE para ler no banheiro. Tempo passava e meus olhos iam se apagando. Minha mãe precisou fazer massagem na minha barriga pra controlar meu desespero. Eis que a porta é destrancada e aberta. Saí correndo como o vento. Tá vou dar opções do que aconteceu:

a) no caminho encontrei uma Testemunha de Geová que me parou para me ensinar valores.
b) tive que ensinar minha mãe, como recompensa da massagem, a gravar um programa no videocassete.
c) escorreguei no tapete do banheiro e bati a sobrancelha na privada

Pois é. Dessa vez teve que costurar, ah e claro, não consegui usar o banheiro. Só de noite. Fim.

Mas a coincidência de eu sempre estar machucando minha testa com meu pai envolvido na situação, me incomoda um pouco. E não tem um motivo concreto, uma ligação, algo que eu possa dizer: "bom, mas testas e pais, tem tudo a ver, né gente?". E aí? Testa com leitura em braile a cada 10 anos? Fim?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Enganando a família no revellion




Exitem famílias que sempre viajam nas férias de final de ano. Algumas viajam pra lugares diferentes a cada ano, outras viajam para o mesmo lugar sempre. A minha não. Ficamos mais em casa. E eu gosto disso, não acho tão ruim não. Mas quando surge uma oportunidade de conhecer um lugar novo, é sempre bacana, né? E foi com esse intuito que minha mãe apareceu com uma "novidade". Achou em uma mini-notinha nos classificados do jornal um anuncio pequeno e magrinho dizendo sobre um hotel fazenda. Ligou para o número, papo vai, papo vem e ela foi gostando do lugar:

- mas então vocês têm um café da manhã bem variado, com frutas daí, geleias e vários tipos de pães e tal?
- temos sim.
- e tem cavalo para passear?
- claro temos sim.

Se convenceu. Veio nos dar a notícia.

- gente, nós vamos passar o reveillon num hotel fazenda!
Olhares meio "humm... ta" foram inevitáveis. Morávamos antes em uma cidade onde o assunto era boi, então fazenda era algo que conhecíamos muito bem. Mudamos para outra cidade onde não se fala sobre boi. Só que minha mãe tinha os seus motivos.

- é um Park Hotel, será um revellion de contato com a natureza, andaremos à cavalo e vamos nadar em águas quentes.
- mas é numa fazenda mãe?
- mais ou menos isso.
- hum...
- são chalés! vamos ficar em um chalé!

Por que não? Né? Fomos. Pra mim iríamos na fazenda do Chico Bento só que mais chique. Chegando no local ( que parecia lenda já, de tão complicado ) A primeira decepção foram os "chalés!" que ainda estavam em construção. Os prontos era os chalés mais sem-graça de todo o Goiás. Feio. Mas não vamos desanimar, certo? Entramos no quarto. Foi aí que começou a dar aquela desanimada. O quarto onde ficaria eu e minha irmã tinha, por culpa de alguma lógica do dono, 5 camas de solteiro um berço. Pra mim era um quarto para uma família circense. Cada cama tinha uma roupa de cama diferente: Uma azul, outra rosa com borboletas, um bege, ou seja, parecia que o cara abriu um grande armário de sua casa e pegou lá o que tinha, exatamente no mesmo dia que decidiu abrir um hotel-fazenda. Tenso.

Ao terminar de ver o quarto, fomos até a sacada que dividia com o quarto do lado, que ainda bem eram dos meus pais. O encontro de minha irmã e eu com meus pais na sacada foi marcado com um rosto coletivo de "pior que é longe ainda". Bom mas minha mãe tinha ainda o espírito aventureiro no corpo, tentou nos animar:

- bom, lugar é rústico...

Passamos o dia fora, em um termas nadando em piscinas sensacionais de água quente. Muito bom mesmo. Hora ruim era voltar pro hotel-fazenda, e naquela noite, teríamos o tão aguardado: Revellion. Lógico que iríamos passar lá. Todo mundo se arrumando, vestindo branco, chegou a hora de ir curtir a ceia. Acho que foi nesse momento que passamos a sentir que o fundo do poço tinha mesas e cadeiras com ceia self-service. As mesas todas de piscina com um pano feio, apenas 8 lâmpadas natalinas imensas, clima mórbido e escuro. Tocava uma música sertaneja saindo de uma caixa de som que parecia ser de 1943 e claro, nenhum sinal do dono na festinha. Qualquer pessoa que você olhasse do lado tinha a expressão igual a sua: de arrependimento, com raiva, com depressão, com final-do-ano-e-to-aqui, com quero-minha-casa e uma pitadinha de e-eu-falei-que-não-queria-ir-pra-fazenda-num-revellion.

Ceia começou 20h00. 20h40 estávamos nos quartos já. Então, toda família sentada na cama vendo televisão, eis que minha mãe levanta e vai ao banheiro. Volta do banheiro e olha pro meu pai com uma cara de tristeza absurda. Num gesto solidário, meu pai tem um ataque de riso. Ninguém sabendo o porque. Ele não consegue falar, começa a rir muito, minha mãe se irrita. Minha irmã ri de besta junto. Eu começo a rir também. Minha mãe se entrega e rí junto. Família inteira rindo, até meu pai parar e concluir indagando para minha mãe: - minha querida, onde a gente tá?

Deu meia-noite. Fizemos guerra de espuma, foi bem bacana. Naquele momento a gente percebeu que não importava muito se estivéssemos em casa, ou na casa de algum parente, ou em um hotel feito por um camelô. O bacana era que além de a gente se curtir, íamos embora mesmo no dia seguinte. A partir daquele dia, aprendemos a pedir o folder do hotel, pra não ter tanta surpresa.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Bateu e não pagou.




Bater o carro sempre dá um ótima sensação de investimento. É um dinheiro bem gasto, sem dúvida. Pena que eu nunca tenha aproveitado a oportunidade de aplicar muito bem neste ramo. De todas as vezes que eu bati o carro da minha mãe, nunca deu mais de trezentos reais de conserto.

Mas meu irmão não. Sempre que ele pode, ele bate. E bate bonito, deixa tudo amassado, nada que não saia por menos de 2.000 reais. E foi o que aconteceu.

Ele teve a pachorra de amassar as duas portas do lado do passageiro sem amassar o resto da lataria, o que por si só ja é um milagre. Quando eu cheguei em casa nesse dia, ele estava chorando em um quarto e minha mãe em outro, minha mãe de tristeza e ele... de malandrão mesmo. Ele JUROU que bateu em um carro depois de abrir caminho para uma ambulância. O motorista do carro em que meu irmão bateu, percebeu na hora a vocação dele em salvar os doentes e enfermos, e por isso o perdoou, não o responsabilizando pela batida. Uma história linda.

No fundo, eu sabia que o meu entraria na reta também, principalmente quando minnha mãe estava choramingando e me perguntou:

- Filho, quanto dinheiro você tem?

Meu irmão, é claro, não tinha um centavo para pagar o prejuízo que causou. Meu dinheirinho que eu guardava com tanto suor, finalmente encontrava um destino que realmente valesse a pena.

Pois bem. O tempo passou, meu pai fez questão de deixar o carro o máximo de tempo batido e minha mãe promoteu nunca mais dar o carro na mão de nenhum de seus filhos. E é claro que ela o fez.

Após um mes e meio ela resolveu conserta-lo, e então chamou XAMPÚ, o funileiro. Xampú é praticamente um membro da família, pois desde que meu irmão fez 18 anos, o carro tem passeado várias vezes pela oficina dele. Um dia eu até cheguei em casa e ele estava lá almoçando com minha mãe, falando sobre as estripulias que o filho dele de 13 anos fazia com a moto. Grande Xampú.Pra mim já não fazia diferença nenhuma, eu não ia mais pegar o carro mesmo...

Depois de mais de uma semana de espera, o funileiro chega em casa para acertar com minha mãe, os dois se sentaram na mesa e eu me retirei do recinto, antes que sobrasse pra mim.

Sobrou. Depois de o funileiro ir embora resolvi compadecer do prejuízo dela, e perguntei:

- E aí mãe, quanto deu o conserto??

- Deu mil reais..

Então ela parou para pensar um segundinho, me olhou e disse em tom ameaçador:

- AGORA VOCÊ VAI LÁ NO SEU COFRINHO, PEGA MIL REIAS E ME DÁ AGORA.

Eu fiquei sem reação. Na hora hora, a única reação que consegui esboçar foi dar uma gargalhada bem gostosa:

1) Por não acreditar no que ela me dizia.

2) Por achar, no mínimo, bem humorada a proposta dela de me culpar por um prejuízo que eu não causei, me aplicar um castigo severo, e ainda me fazer PAGAR MIL REAIS para recebe-lo.


No final das contas, ela compreendeu que não era muito legau tirar o que um tem guardado para pagar o que o outro perdeu. Então ela fez o que acho que tinha de ser feito. Arrancou dinheiro do meu pai.

minha mãe é demais.
beijos.

terça-feira, 14 de abril de 2009

... e a festa acabou cedo.



Minha mãe sempre foi uma pessoa que se importa com os outros. Participava de grupos de reza que faziam eventos para arrecadar fundos para ajudar os pobres. Eventos que destruíam domingos. Acho que muita gente já passou por essa experiência: Churrasco Beneficente, que se camufla de Churasco Dançante, para atrair mais gente. Se tivesse o adendo "tragam seus próprios talheres e pratos" então, era só alegria. Agora isso acontecia pelo menos um domingo por mês, mas tinha também alguns eventos comemorativos, como a famosa Festa Junina.

Festa junina beneficente. Êba. Ta certo que com 11 anos de idade, você não tem faz muita coisa num sábado a noite, então uma festinha junina só faz seu sábado ser mais legal. Fui pra festa e nossa, tava um saco. Povo mole, quem era animado conversava sentado. Chato mesmo. Precisava fazer algo legal. Olha, eu não sei vocês, mas se tem um negocio que diverte um guri numa festa junina é soltar bombinha. Nossa, bom demais isso. Explodir coisas: garrafa pet, latinha de refri, lata de tinta e potes em geral. Eu estava com algumas bombinhas no bolso e precisava de companhia para estoura-las.

Então chegou uma amiguinha minha, quase irmã na época. Saímos para caçar algo para estourar. Procura ali, procura lá, paramos no canto da festa onde tinha um morro de palha. Joguei a bombinha e não estourou. Ué que estranho... Aí começo a olhar firme pra onde a bomba tinha caído. Vejo uma labareda sapeca. Ihhh... Olhei pro lado, minha amiguinha já tava comendo mandioca com os pais dela, como se nada tivesse acontecido. Saí de lá também, sentei na mesa e fiquei quietinho.

Situação foi a seguinte. Primeiro cara a gritar em um evento beneficente religioso a frase "P*TA QUE O PARIU TA PEGANDO FOGO!" foi um que tava dançando todo alegre na quadrilha e ficou sério. Gritaria. Pessoas com baldes. O fogo cresceu de um jeito que começou a ameaçar as janelas do prédio do lado. Correria era grande. Todos estavam preocupados e aflitos, apenas duas pessoas que não: eu que quebrava palitos de dente em pedacinhos e minha amiga servia um pouco mais de mandioca.

Meu tio, é um cara que tem o pé atras quando acontecem coisas estranhas do nada. Pra ele, se aconteceu uma cagada e eu ainda estou junto, tudo faz sentido. Matou tudo numa olhada só:
- mas foi você né negão?
- hum?
- HAHAHAHAHAHAHAHAHA.

Baixei a cabeça triste. Meu tio se acabava de rir. Minha mãe olha pra mesa em minha direção. Encontra o filho de cabeça baixa meio que rindo e meu tio gargalhando sem parar. A cara dela foi uma mistura de: " meu deus do céu, meu filho botou fogo na minha festa junina" com " acho que começaria cortando o bracinho".

Enfim, como era apenas palha, o fogo não teve força para queimar mais nada. Só deixou preta a parede e acabou com uma festa. Minha mãe teve que fazer cara de "oie" para todos até ir embora. Não sabiam que tinha sido eu, mas minha mãe é total encanada e correta. Se ela ficasse mais meia hora naquela festa, iria pegar um microfone e dedar que tinha sido eu. Pelo menos eu sei que 3 pessoas se divertiram naquela festa do começo ao fim: eu, minha amiguinha e meu tio.